Um criança disse a mãe bem perto de mim em um shopping enquanto olhávamos para o Papai Noel: “Já é Natal de novo”! Naquele instante todos riam da espontaneidade da expressão, depois fiquei pensando: se até as crianças estão sentindo o tempo passar tão rápido, o ano voar, os acontecimentos rapidamente se retornarem; estamos, de fato, descontrolados.
Perdemos a noção da velocidade com que os fatos estão acontecendo. Já não nos damos conta, de modo consciente, da rapidez com que estamos vivendo afazeres e atividades. Existem alguns que pensam que estão com o controle nas mãos. Não perceberam ainda, o quanto estão dominados pela agitação e por uma cultura da modernidade compulsiva.
Estamos dominados pela pressão. A máxima é não perder tempo para alcançar metas rapidamente, valorizando resultados imediatos, num ativismo que sobrepõe ambição a tudo, com horário marcado para tudo, conectados à tudo, disponíveis para respostas a qualquer momento. Passamos pelas coisas, mas não temos tempo para nos envolvermos com elas. Passamos pelas pessoas, mas não temos tempo para nos relacionarmos com elas. Estamos passando pela vida, mas não temos tempo para viver. O menino do shopping tinha toda razão: “de novo”! Passou tão rápido para ele quanto tem passado para nós. E a responsabilidade por isso, é nossa.
No deserto de tantas vozes a gritar agitadas pelo tempo e ritmos frenéticos da vida, o menino que grita é uma VOZ QUE CLAMA NO DESERTO! Um grito por liberdade, por vida, por graça, esperança e paz. Sinto que muitos gritos nos desertos desses tempos esperam novas escolhas e propostas, novos projetos e novos sonhos.
Agora é o tempo do advento. Tempo da esperança e da renovação para outros momentos fortes da caminhada. Oportunidade para recomeçar o ano litúrgico, planejamento para o novo ano civil, abrandamento do ritmo interior. A necessidade de decidir é constante. Daí, a urgência em um propósito de lentidão, sem precipitações, sem compulsividades, sem repetições banais. Precisamos resignificar a dinâmica da ritimação, dar um novo colorido ao tempo, encontrar novo sentido para a vida. Decidir: VIVER!
Pe.Evandro Alves
Pároco da Paróquia Santa Luzia