A Bíblia é o livro mais traduzido do mundo em todas as línguas. Sempre foi um norte para a teologia. A investigação da Bíblia parte da fé. A palavra teologia deve ser compreendida como a fé buscando suas razões, através da Revelação (tirar o véu, ver o que está escondido). Deus não é objetivável, no sentido empírico (material), mas é o sujeito da investigação. Portanto, Teologia é Deus falando de si mesmo através do teólogo e não uma mera reflexão sobre Deus, muito menos não se trata do “estudo de Deus”.
Para adentrar no universo bíblico precisamos percorrer um caminho diferente de qualquer outro método. O percurso da fé é o dado característico de quem deseja conhecer a Bíblia. Sem fé é impossível conhecer a Palavra de Deus. Por Palavra de Deus deve-se compreender não somente a Bíblia, mas também a Tradição da Igreja (a patrística, a teologia medieval e moderna, a vida ascética dos místicos transmitida mediante obras teológicas). Esta também é fonte de revelação.
A interpretação do Antigo Testamento e do Novo Testamento cabe à comunidade de Israel e à Tradição cristã, que procura se instruir no conhecimento de Deus pela ótica da fé e da Sagrada Tradição que receberam, oral e escrita. Não existe nem na comunidade de Israel nem na comunidade cristã interpretação subjetiva; o tal do “eu acho…; interpreto assim…; a Bíblia é de interpretação pessoal…” etc. Corram, fujam desse tipo de concepção! A Bíblia é um livro sagrado da COMUNIDADE DE FÉ e não de um indivíduo. Mais ainda, a interpretação da Bíblia (AT e NT) parte dos dados da ciência exegética. Resumidamente, exegese é o texto original, pois alguns livros do AT foram escritos em hebraico e outros em grego, e alguns aramaísmos. O NT foi escrito em grego, com alguns hebraísmos e aramaísmos. Logo, o exegeta deve conhecer os textos sagados na língua original para, a partir do texto original, fazer a devida interpretação (hermenêutica).
Portanto, a afirmação: “o ponto de vista é a vista de um ponto” tem fundamento a partir daquele que é capaz de ver o ponto. Quem não consegue ver o ponto (quem não conhece as línguas bíblicas) precisa contar com aqueles que veem, pois conhecem aspectos da natureza de algumas palavras ou expressões da cultura da época do povo da Bíblia, que por ventura desconheçamos.
Enfim, procuremos abrir as portas do nosso coração a fim de que a Palavra Encarnada (Jo 1,14), Jesus Cristo, possa agir em nós, dinamizando nosso ser, nos ensinando a apaixonar pela Palavra de Deus. Dom Henrique Soares afirma que ler as Escrituras, meditar as Escrituras e mesmo conhecer as Escrituras é como que lê, meditar e conhecer o coração de Deus. Portanto, através da Bíblia podemos ter acesso ao coração de Deus.
Padre Rafael Emanuel
Referências:
A BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2010.
KONINGS, Johan. A Bíblia, sua origem e sua leitura: introdução ao estudo da Bíblia. 7. ed. atual. Petrópolis: Vozes, 2011.
SILVA, Cássio Murilo da. Metodologia de exegese bíblica. 3 ed. São Paulo: Paulinas, 2009.