Neste dia 21 de junho é celebrada a memória de São Luiz Gonzaga, protetor dos jovens e dos estudantes. Junto com esta data recorda-se também o período do processo de formação inicial dos sacerdotes, que se dá de uma forma bem específica: o seminário.
Não são raras as vezes em que surgem as seguintes dúvidas: Quem é o seminarista? O que ele faz? Muitos não conhecem a trajetória de um homem para chegar ao sacerdócio, e quando a descobrem, admiram-se pelo tempo de formação.
Para comemorarmos esta data, a equipe do site da Diocese de Sete Lagoas traz para você, um artigo em forma de testemunho, do seminarista da nossa diocese, Philip Rangel de Oliveira Souza que está no 1º ano de Teologia.
Toda a Igreja é convidada a rezar pelos seus seminaristas, de maneira especial nossa Igreja Particular. A certeza de bons sacerdotes perpassa a garantia da oração sincera do seu povo. Incentivar e promover as vocações é missão de toda comunidade de batizados. Que Nossa Senhora da Conceição, padroeira de nossa diocese e o auxilio de São Luís Gonzaga intercedam por todos os nossos seminaristas.
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O que mudou em minha vida desde a minha entrada no Seminário?
Acredito que nunca parei para pensar muito tempo e refletir sobre o que mudou em minha vida desde aquele dia, percebo que na maioria das vezes tenho deixado escapar. As preocupações acadêmicas, a rotina sobrecarregada, as pastorais, o cumprimento de agenda e a famosa ociosidade – o que me deixa “muito ocupado em não fazer nada” (2ªTs 3,11) – e outras circunstâncias que roubam de mim o que é preciso refletir: quais os desafios que já enfrentei, a importância de tudo isso e o que mudou em minha vida.
Escrever é sempre um remédio para a minha alma, porque vêm na memória lembranças de acontecimentos que marcaram a etapa de minha formação até este momento. Como um flash, consigo sentir novamente essas emoções de alguns momentos vividos. E que agora, já consigo perceber que não sou mais e nem serei mais o mesmo.
Ainda posso considerar que há um grande caminho a percorrer, para que uma preparação seja completa, para assumir, “nas graças de Deus”, a grande responsabilidade que é o sacerdócio. Eu cresci, amadureci um pouco mais. O que por outro lado, em uma boa parte, não havia notado. Sempre me questionei se eu mudaria em algo e os resultados começariam a aparecer. Tive que assumir e aprofundar mais no “silêncio” com Cristo, para que esses novos desafios e uma nova fase pudesse começar a me preencher completamente. Iniciar um processo de configuração, mesmo que ainda, neste exato momento que escrevo, esteja no início, mas já se torna fecundo. Minhas fragilidades se tornam cada vez mais evidentes e aparentemente difíceis de se enfrentar.
Recordo-me do chamado dos primeiros discípulos, quando esses momentos tentam me atacar, as dificuldades que são necessárias para que possa completar essa tarefa formativa e que o mesmo acontecimento parece repetir agora comigo. É o Cristo que passa, é ele que os fita primeiro nos olhos, ama-os e, em seguida, os convida: “Vem e segue-me”. Sem resistir, no mesmo instante “eles acabam deixando as redes e o seguem”. (Mc 1,18) É aqui que meus olhos enchem de água e emociono quando retorno nessa passagem, consigo sentir esse ardor queimando em meu interior, o de deixar as redes para seguir Cristo. É algo sobrenatural, não há uma explicação.
Contudo, percebo o que mais vejo de similar com os discípulos, então: é o amor. Quando esqueço desse, desvio o meu olhar do d’Ele – quando me encontro frágil, quero fugir e abandonar tudo, quero esquecer de tudo, de não ter mais forças. “Quereis vós também ir embora?”(Jo 6,67). Percebo que até mesmo os discípulos, aqueles que sem pensar abandonaram tudo, mas tudo mesmo, para seguir Cristo, agora são confrontados por Ele, o grande Autor das vocações. E me pergunto novamente: Quantas vezes eu quis ir embora? Quantas vezes o fardo ficou pesado e eu acreditei não dar conta? Quando tudo poderia estar dentro de um mundo de ilusão do que de verdade.
Acredito sem dúvidas que esse mesmo questionamento do Senhor tocou Pedro no seu mais íntimo de seu ser, um grito que ecoou em toda a sua caminhada. Ele ali, poderia ter pensado em tudo que mudou em sua vida, até aquele momento que foi chamado, e assim ele supera suas dúvidas. O seu ardor cresce novamente, o amor se torna forte em seu coração retornando a missão: “Senhor, a quem iriamos nós? Tu tens palavras de vida eterna.” (Jo 6,68)
É com essa renovação de seguir Cristo, que os discípulos se jogam novamente e voltam a fraquejar na caminhada: “Todos os discípulos, abandonando-O, fugiram”(Mt 26,56). Mas, como? Se realmente tinham dito que o acompanhariam novamente. Até o momento, dentro do seminário a minha caminhada tem se dado de uma forma parecida. Percebo que nas minhas limitações, não sou capaz de dar nenhum passo, mas ao lado do Senhor, banhados pelas suas perguntas que me tiram do eixo, me provoca – “… tu me amás?” (Jo 21,17) -, eu digo: me encoraja todos os dias Jesus, restaura o meu vigor, os meus sonhos, a minha vontade e me dá a coragem necessária de tentar mais uma vez, de não desistir. Me ajuda a cumprir com o seu chamado até o fim!
Mas, retornando ao tema: o que mudou em minha vida até aqui? Acredito que nenhum momento anterior de minhas lembranças e de acontecimentos que já passaram é capaz de causar em mim essa mesma alegria, esse grande amor e desejo de seguir nos momentos que tenho vivido, e vivo, depois que a voz de Jesus ecoou em meu coração. Percebi que o mundo não é mau, mas agora já não é capaz de me preencher, de me fazer feliz da forma que o meu Amado é, porque preciso como o amor, procura-lo todos os dias e reconfortar novamente em suas palavras, entender que sou limitado, mas com ele eu me sinto forte. Tudo vem acontecendo muito rápido, tenho reaprendido a viver novamente para infundir em Suas palavras, suportando as dores, mas confiando na fidelidade d’Aquele que me chamou.
A minha caminhada continua, e tenho o desejo de mudar mais, sempre mais, porque é necessário. A transformação maior, mesmo pelo meu crescimento, foi em perceber que preciso d’Ele ao meu lado, olhando em meus olhos, para reerguer-me novamente quando os meus limites chegarem ao máximo e querer afastar-me do seu chamado, de esquivar-me dos Seus olhos. Como se novamente eu ouvisse d’Ele as palavras: “Vem e segue-me”.
Philip Rangel de Oliveira Souza
Seminarista – 1º Ano de Teologia / Diocese de Sete Lagoas