“Um galo sozinho não tece uma manhã: ele necessita sempre de outros galos. De um que escute esse grito e que ele o lance a outro; (…) de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã vá tecendo, entre outros galos.” (João Cabral de Melo Neto)
O Grito dos Excluídos é um apanhar de gritos de galo, num processo pedagógico coletivo, que implica presença, escuta e vínculo. Fora disso é mera fotografia social.
Queremos alcançar, com o Grito de 2023, mais de 400 comunidades de nossa Diocese de Sete Lagoas. Estamos há décadas em busca de fazer ecoar este GRITO em nossa Diocese e em todo Brasil.
O Grito dos Excluídos tem por objetivo levar às ruas, esquinas, avenidas, praças, lares e sacristias de nossas Igrejas os gritos pisados, calados, engasgados e silenciados. O grito incomodou até os discípulos de Jesus, cuja reação foi mandar calar (Mc 10, 48). Mas os gritos emergem nos porões da humanidade, nos centros desumanizados e nas “periferias geográficas e existenciais.” (Papa Francisco)
Todos os anos, somos chamados a romper os cordões de “isolamento oficial” do 7 de setembro ufano das margens plácidas e adentrar com as margens que querem ter voz, vez e lugar. O espaço é aberto, ecumênico e permanente, feito da interação de “pessoas, grupos, entidades, igrejas, pastorais, movimentos populares” e todos que carregam a sensibilidade e luta junto aos invisíveis da sociedade.
O Grito 2023 alerta que a vida está em primeiro lugar. E provoca a reflexão: VOCÊ TEM SEDE E FOME DE QUE?
Em nossa Diocese, gritos isolados e coletivos nos dão respostas. E nosso compromisso é de ecoá-las aos quatro cantos até que sejam atendidas.
Os moradores de diversos bairros de Sete Lagoas e demais cidades da Diocese gritam dia e noite com sede e fome de justiça, por água, saúde, pão, teto, terra e trabalho. São mais de 50 mil pessoas abaixo da linha da pobreza.
Nossos adolescentes e jovens gritam e têm sede e fome do primeiro emprego, mas as vagas são poucas e muitas demandas adormecidas.
As mulheres gritam e têm sede e fome de creches e escolas para seus filhos, de comida diária para alimentar a família, do fim do feminicídio e das várias formas de violência, incluindo a do parto, do extermínio do patriarcalismo, machismo, sexismo, misoginia. De acordo com o diagnóstico sobre Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, feito pela Polícia Civil-MG, apenas no primeiro semestre deste ano foram registrados 1.179 casos de violência em Sete Lagoas, contra 2.043 em todo o ano de 2022, o que demonstra que está havendo um crescimento. Já casos de feminicídio os dados são de 2021 e parciais: 3 mulheres foram mortas por serem mulheres. É preciso lembrar que há subnotificação de casos, tanto de violência quanto de assassinato.
Nossos idosos gritam e têm sede e fome de um sistema de saúde voltado para suas necessidades específicas, de transporte adequado, de acesso a medicamentos de forma constante, de segurança alimentar. Também têm sede e fome de cuidado e proteção contra o descarte e isolamento nos asilos e casas de idosos.
Nossas crianças choram e gritam, ainda hoje, de fome e sede de alimentação segura, de ternura, cuidado e atenção. E vida.
Pobres e pessoas em situação de rua, noite e dia, têm fome e sede de visibilidade e de serem reconhecidas como cidadãs pelas políticas públicas.
Em nossa Diocese, os assentamentos Rosa Nunes na cidade de Pequi; 26 de outubro, Queima Fogo, Chácara do Chórios, Antônio Veloso na cidade de Pompéu; Resistência na cidade de Funilândia querem a nossa presença afetiva e efetiva e vínculos nas lutas permanentes.
Os quilombolas da Pontinha, na cidade de Paraopeba; Mato do Tição na cidade de Jaboticatubas; Açude, em Santana do Riacho; Dr. Campolina, em Jequitibá; Saco do Barreiro, em Pompéu lutam e gritam por seus direitos de identidade quilombola e reconhecimento legal de seus quilombos.
Em nossa comunidade, pretas e pretos gritam e choram contra a manutenção da desigualdade imposta desde o escravismo que, até hoje, os mantém na mira, em especial os jovens, das polícias racistas; gritam contra um sistema que os excluem de cargos, empregos e educação e impõe medo, violência e morte. O grito é: “Não basta não ser racista; é preciso ser antirracista”.
Os religiosos de matrizes africanas gemem e gritam pelo fim da violência contra seus terreiros e contra a intolerância e indiferença à suas práticas ancestrais de fé.
Os indígenas da comunidade Kaxixós, em Martinho Campos, gritam pela terra permanente e contra o Marco Temporal, que está em votação no Supremo Tribunal Federal e que pode reduzir a demarcação de terras.
Em nossa região, o meio ambiente geme, grita e chora pela devastação de suas nascentes, rios, cerrados, fauna e flora, muitas vezes em função da especulação imobiliária.
Enfim, qual a nossa sede e fome que fomos chamados a refletir sobre o 29º Grito dos Excluídos-2023?
Temos sede e fome de uma Igreja “franciscana”, de rosto voltado para Jesus de Nazaré, que acolhe, escuta, cuida e se faz presente para que, diuturnamente a VIDA esteja em PRIMEIRO LUGAR.
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Comissão de Promoção Humana e Ecologia Integral
Diocese de Sete Lagoas