Eis o dia glorioso, em que a Virgem, Mãe de Deus, aos céus foi elevada;
Louvando-a, proclamemos: sois bendita entre as mulheres e
bendito é o fruto, que nasceu de vosso ventre.
Sois feliz, Virgem Maria; e mereceis todo louvor;
Pois, de vós se levantou o Sol brilhante da justiça, que é Cristo, nosso Deus. ¹
A Igreja no Brasil celebrou no último domingo a solenidade da Assunção de Nossa Senhora ao céu. Segundo Dom Armando Bucciol (presidente da Comissão para a Liturgia da CNBB), a festa tem sua origem a partir do Concílio de Éfeso (451) que proclamou Maria “Mãe de Deus”. Quando celebramos a assunção de Maria reafirmamos nossa esperança na ressurreição! “[Maria] que passou pela morte, mas que não esteve sujeita aos seus vínculos”. Celebramos também neste domingo o encerramento da semana dedicada as famílias no mês vocacional. Celebrações que nos convidam a assumir nossa responsabilidade cristã, nossa vocação.
No evangelho que nos foi proclamado, percebemos a grande disposição daquela jovem mulher em assumir sua vocação! Maria pôs-se a caminho (Lc 1,39). Quando anunciado a Maria que ela conceberia um filho por ação do Espirito Santo (Lc 1,35), pôs-se a caminho para servir a Deus e a humanidade! Aceitando sua difícil missão, Maria não hesitou em servir sua prima Isabel que já estava no sexto mês de gravidez com idade avançada. Uma família que necessitava de atenção e cuidados, recebem a Mãe do Salvador para ajudar com a criança que viria. Maria ficou com eles por três meses até a circuncisão de João Batista (Lc 1,56).
Quantas famílias hoje estão em estado de risco, passam por muitas necessidades, são marginalizadas e esquecidas pelos poderosos do mundo. Nossa missão, vivida e testemunhada por Maria, é também de nos colocar a caminho, servir aqueles que mais necessitam do amor de Deus. Nosso tempo, de muitos questionamentos, dúvidas, medo, nos leva a refletir sobre a importância e a necessidade da família para um progresso cada vez mais fecundo da sociedade humana. Desvalorizada por muitos, mas conscientemente defendida por nós! É preciso alargar nossa compreensão para chegarmos, principalmente, naquelas famílias em grandes dificuldades. Se observarmos atentamente o projeto de evangelização “proclamar a Palavra” da Arquidiocese de Belo Horizonte, o termo família é “a união das pessoas na consciência do amor, ‘cuja força […] reside essencialmente na sua capacidade de amar e ensinar a amar’, constituindo um núcleo fundamental das sociedades”. Nesta perspectiva, é reconhecido o valor do matrimônio para a Igreja e para a sociedade e, o que nos traz de novidade, é que não restringe a compreensão da existência de outras configurações familiares, oriundas de situações sociais, culturais, econômicas e religiosas diversas. É preciso que estejamos bem atentos para servir com amor essas novas necessidades!
O capítulo oito da Amoris Laetitia, nos deixa uma belíssima proposta para o trabalho pastoral com as famílias em dificuldades! “João Paulo II propunha a chamada “lei da gradualidade”, ciente de que o ser humano conhece, ama e cumpre o bem moral segundo diversas etapas de crescimento. Não é uma gradualidade da lei, mas uma gradualidade no exercício prudencial dos atos livres em sujeitos que não estão em condições de compreender, apreciar ou praticar plenamente as exigências objetivas da lei”.
Isabel e Zacarias, já com idade avançada, concebem um filho em sinal da misericórdia de Deus. Maria, cheia da graça divina, leva até eles a esperança viva da promessa! A resposta de Isabel a saudação de Maria confirma a confiança do povo em Deus Libertador: “O que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido (Lc 1,45). A centralidade do evangelho está na ação de Deus na vida do seu povo. Maria com seu cântico retoma a experiencia de fé dos seus antepassados, desde Abraão àquele momento de júbilo! “Pois, o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. Santo é seu nome e sua misericórdia perdura de geração em geração” (Lc 1,49).
Celebrar a Assunção de Maria é muito mais que reafirmar um dogma da Igreja. É assumir nossa vocação cristã, nossa responsabilidade diante do outro que sofre e necessita da nossa ajuda. Maria foi elevada ao céu não pelo privilégio de ser Mãe do Salvador, mas porque primeiramente pôs-se a caminho no serviço, assumiu sua responsabilidade de mulher, de mãe, e ainda mais, sua responsabilidade de fé em Deus que a permitiu sair de si mesma para assumir a si mesma, assumindo plenamente sua vocação. Maria se comprometeu com a realidade e com a história humana, principalmente, com os mais pequeninos e marginalizados: “Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou. Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias. Socorreu Israel, seu servo, lembrando de sua misericórdia” (Lc 1,52-54). Assim, Deus a elevou como uma antecipação daquilo que todos nós batizados alcançaremos, a ressurreição! Deus munificentíssimo, que tudo pode, e cujos planos de providência são cheios de sabedoria e de amor, nos seus imperscrutáveis desígnios, entremeia na vida os povos e dos indivíduos as dores com as alegrias, para que por diversos caminhos e de várias maneiras tudo coopere para o bem dos que o amam (cf. Rm 8,28).
Celebrar a solenidade da Assunção de Maria, reforça nossa esperança no Divino Mestre. Se, como Maria, nos colocarmos a serviço de todo o ser humano, preferencialmente dos mais pobres e sofredores, nossa herança será alcançada e poderemos, jubilosos, cantar aquele mesmo hino: o Senhor fez em mim maravilhas, Santo é o seu nome.
Lucas André Pereira (seminarista/1° Teologia) – Diocese de Sete Lagoas
Referências :
¹ Responsório do Ofício das Leituras na solenidade da Assunção de Maria – Liturgia das Horas.
ARQUIDIOCESE DE BELO HORIZONTE. Projeto de Evangelização: Proclamar a Palavra. < http://arquidiocesebh.org.br/noticias/proclamar-a-palavra-conheca-nosso-projeto-de-evangelizacao/ >.
BUCCIOLI, Armando. Solenidade da Assunção de Maria recebe grande atenção do povo cristão. CNBB. Disponível em: < https://www.cnbb.org.br/solenidade-da-assuncao-de-maria-recebe-grande-atencao-e-devocao-por-parte-do-povo-cristao/ >.
CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA. MUNIFICENTISSIMUS DEUS: sobre a definição do dogma da assunção de Nossa Senhora em Corpo e Alma ao céu. Papa Pio XII. Disponível em: < http://w2.vatican.va/content/pius-xii/pt/apost_constitutions/documents/hf_p-xii_apc_19501101_munificentissimus-deus.html >.
EXORTAÇÃO APOSTÓLICA. AMORIS LAETITIA: sobre o amor na família. Papa Francisco. Disponível em: < http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20160319_amoris-laetitia.html >.